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Brasil
Publicada em 21/06/22 às 14:14h - 302 visualizações
Cães de serviço: entenda como eles ajudam pessoas com deficiência
Cães-guia, ouvintes e de serviço podem devolver aos humanos a independência em tarefas importantes, como se locomover e se vestir

Rádio Pestalozzitx

 (Foto: Rádio Pestalozzitx )

Os pets, sem sombra de dúvida, trazem muita felicidade para os tutores. Porém alguns vão muito além das brincadeiras e dos "lambeijos"! Você já deve ter ouvido falar de cães policiais, bombeiros ou cães-guia, mas sabia que esses animais podem exercer outras funções para ajudar a vida de quem precisa?

“Cães de assistência” é o termo geral utilizado para designar os cachorros que auxiliam no bem-estar ou independência das pessoas. São três categorias principais: cães-guia (que acompanham deficientes visuais), cães-ouvintes (que auxiliam deficientes auditivos) e cães de serviço (que dão assistência a pessoas com deficiências motoras e também crianças autistas).

Há também os cães de terapia e cães de apoio emocional, os quais atuam na parte de suporte emocional para os humanos na vida diária, em hospitais ou centros de reabilitação.

Raul Garciaadestrador e presidente da Cão Inclusão, ONG que treina cães de serviço, explica que eles “são animais treinados individualmente para a realização de tarefas que permitem aumentar a funcionalidade e autonomia de pessoas com algum tipo de deficiência física”.

Hoje, no Brasil, quem precisa de um cão de assistência deve entrar em contato com entidades que treinam os bichos, preencher as informações e requisitos necessários (dentre eles, a comprovação médica) e aguardar até um animal estar disponível.

O que um cão de serviço pode fazer?

Para quem é portador de deficiências motoras ou possui algum tipo de dificuldade de mobilidade, algumas atividades do cotidiano podem acabar travando a rotina, uma vez que exigem a presença de outra pessoa. Aqui, o cão de serviço proporciona mais autonomia e liberdade, já que poderá executar tarefas do dia a dia, trazendo - além da alegria e carinho, é claro - mais qualidade de vida e segurança.

Por serem treinados de forma personalizada, cada animal pode aprender a fazer aquilo que seu tutor precisa, desde abrir portas até ajudar a subir em um carro. Ajudar a calçar um sapato, pegar algo que caiu no chão e abrir gavetas e portas são todos exemplos de ações que um cão de assistência pode realizar.

Lucas Junqueira, psicólogo e atleta profissional de rugby, contou ao Vida de Bicho que sua companheira, Paçoca, é parte fundamental de seu dia a dia: “ela me ajuda muito nas atividades domésticas. Uma das principais coisas em que ela me apoia é pegar objetos que caem no chão, como celular e óculos de sol, ela é sempre muito delicada.”

Lucas sofreu um acidente de mergulho em 2009 que o deixou tetraplégico. Paçoca também o acompanha nas trocas de roupa, algo que costumava ser bastante trabalhoso e demorado. “Uma das coisas que mais me tomava tempo era tirar meias, principalmente aquelas de cano alto. Ela me ajuda a tirar blusa, calça e meias", explica. 

Outro papel especial dos animais de serviço é o apoio às crianças autistas. Nesses casos, eles ajudam as famílias a identificar comportamentos e lidar com eles. Raul conta que os três principais comandos são: ● Ancoragem: o cão identifica os sinais de fuga da criança e se deita no chão para impedi-la;

● Conduta de oposição: o cão interrompe comportamentos destrutivos ou agressivos da criança, lambendo-a no rosto, por exemplo;
● Padrões de sono: o cão dorme junto da criança para mantê-la calma durante a noite.

Como é o treinamento de um cão de assistência

O processo de treinamento de um animal de assistência é complexo e meticuloso, já que o cachorro precisa ter perfil e personalidade adequados para a atividade que vai exercer.

Raul explica que, na ONG que administra, o caminho começa já com a análise genética dos pais dos filhotes e do comportamento dos indivíduos da ninhada. Após escolhido, o filhote passa por um treinamento dividido em três etapas que dura aproximadamente dois anos. As raças golden retriever e labrador são as mais frequentes por seu temperamento dócil.

Família socializadora

A primeira fase começa 60 dias após o nascimento. Nela, o cão selecionado passa um ano, mais ou menos, com uma família que se compromete a socializá-lo.

Comportamentos específicos

Depois do período de socialização, o animal passa por mais uma avaliação e, se aprovado, vai para a casa de um treinador. “Ali, ele irá aprender todos os comportamentos específicos que ele vai exercer na função quando se tornar um cão de serviço", continua.

O treinamento e tarefas ensinadas variam de acordo com a pessoa que o cão irá auxiliar.

Formação de dupla

Os últimos meses do treinamento são focados na construção da relação entre o cão e seu novo tutor. “Essa etapa dura de quatro a seis meses e já é feita com a pessoa ou família que será assistida. Nós fazemos treinos juntos para que o animal se adapte com a família e para que ela aprenda sobre o bicho, os comandos e tarefas.”

Os cães de serviço podem promover benefícios terapêuticos e auxiliar crianças do espectro autista no aprendizado da comunicação, sendo uma ponte social (Foto: @caoinclusao/ Instagram)

Os cães de serviço podem promover benefícios terapêuticos e auxiliar crianças do espectro autista no aprendizado da comunicação, sendo uma ponte social (Foto: Instagram/ @caoinclusao/ Reprodução)

O vínculo entre o animal e humano é imprescindível. Lucas até diz que “não escolhem um cão para uma pessoa, mas sim uma pessoa para o cão”. Ele lembra que a conexão com Paçoca foi muito rápida, mas o processo de adaptação e incorporação dos comandos e tarefas leva tempo e disciplina diárias.

“Num primeiro momento, eu imaginei que seria algo bem robotizado: eu pedindo algo e ela fazendo. Mas não é nada disso. Primeiro, a gente criou um vínculo e somente depois a gente pensou em como ela poderia me auxiliar”, afirma.

Inclusão


Como psicólogo, Lucas também reconhece o impacto emocional dos cães de assistência para quem é portador de deficiências. Ele comenta que o cão é uma maneira de “quebrar o gelo” e iniciar conversas, gerando mais inclusão.

“Muitas vezes, a pessoa portadora de deficiência tem receio ou vergonha ou para se aproximar e conversar; e a pessoa sem deficiência, por mais que queira conversar, pode ter alguma barreira, insegurança ou preconceito e ficar se perguntando ‘como se aproximar’, ‘como  lidar’ com o portador de deficiência. Com o cão, esse ciclo se rompe. As pessoas são curiosas, querem saber mais sobre o animal e acabam interagindo mais", explica.

Lucas e Paçoca:

Lucas e Paçoca: "ela mudou a minha vida na questão de autonomia e independência" (Foto: Instagram/ @lucasjunqueira.eu/ Reprodução)

Salvar

Paçoca também conquistou corações em palestras junto de Lucas. “Um episódio que marcou bastante foi em uma escola. Eu estava explicando a diferença entre um cão de família e um de serviço, falando que não se pode interagir, que eles usam um colete especial. Para ilustrar isso, eu tirei o colete da Paçoca e liberei um de cada vez para fazer um carinho, depois o colete volta e as interações param. Um dos alunos, que devia ter uns seis ou sete anos, fez carinho bem devagar nela e depois ele disse ‘obrigado Paçoca por me fazer perder o medo de cachorros.”

Em suma, o papel da Paçoca vai muito além da sua (imensa) fofura. “Ela mudou a minha vida na questão de autonomia e independência, coisas que sempre busquei depois do acidente. Eu me sinto seguro com ela, sei que, se eu tiver algum perrengue por causa da lesão, ela estará lá para me ajudar”, finaliza.




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